sábado, 9 de fevereiro de 2013

O que eu te diria tia...

Era hora do almoço, uma ligação interrope...

Papo de adulto sabe, disfarçando para as crianças não escutar. Mas para mim estava muito claro. Acabou...

Não teria mais ela por perto, me erguendo para ajudá-la a bombear a cisterna.

Era parecido com essa.

Lembro-me como se fosse hoje.

Eu tinha 4 anos ou menos. Ela me suspendia e colocava sobre a alça.

Creio que já sentia as dores em seu ombro. Era mais fácil um impulso do que bombear várias vezes sequidas.

Mas um dia, ela se foi.

Deixou um sertanejo apaixonado e uma pequena a espiar de longe.
Nunca vou saber o que se passava na mente dela. Talvez quisesse poupá-lo do que estava por vir.

Mas aquela é a última imagem quem trago comigo. Uma jovem disputada por lindos moços que precisava se cuidar.

Talvez se ela soubesse que seria aquela a última vez em que estaria em casa, teria dado uma volta completa ao redor da casa, sentido o ar puro do campo, as aguas correndo para o moinho, tudo que estava ficando para trás. Teríamos brincado juntas. Talvez ela tenha me prometido voltar, mas tudo que consigo lembrar é dela partindo.

Mas  não voltou. Ela se cuidou, pensou ter se recuperado as custa de uma amputação. Feliz com a possibilidade de continuar viva mesmo que incompleta. Aprendeu a sobreviver.

Mas era tarde demais. E ela realmente se foi.
Em sonhos ela disse a minha vó que onde estava era bem melhor. E isso acalmou o coração de mãe que chorava todas as noites.

Mas a mim, ela nunca voltou.

Naquele almoço minha vida mudou. Pensando ser eu apenas uma criancinha minha tia Penha quis me proteger. Disse que estava tudo bem e que minha tia estava vindo para o meu aniversário e que traria a boneca que tanto queria.

Hoje eu a entendo e agradeço sua tentativa. Mas meu coração não se deixou enganar. Como cena de um filme vejo-me deixando a mesa do jantar correndo para o quarto em prantos.

Eramos muito unidas...

Hoje queria eu ter alguém pra me proteger das verdades. Dói tanto... e não posso fugir. Não sou mais aquela menininha.

E a Tia Joana? Como nunca nos despedimos ela sempre estará aqui comigo. Quando preciso nós conversamos. Ela me escuta, não me julga, apenas me escuta.

A única coisa que me restou dela é essa foto que me faz lembrar de onde tirei esses olhos tão expressivos, como diria Evelin Scarelli.

Tia, se eu pudesse me despedir, lhe diria o quanto eu te amo. O quanto queria tê-la por perto, me vendo crescer. A mulher que me tornei. Acho que iria aprovar.

Hoje em dia tudo é diferente. Cortar o cabelo não é mais a maior das rebeldias, mas eu também passei por isso sabia. E nem foi o meu cablo.

Mas hoje estou mudada. Não deixo que tomem as decisões por mim. Isso dói porque tento ser perfeita em tudo. E se não consigo, ah... dói demais.

Iria gostar da São Paulo de hoje viu, o trem ... rs... não pode mais vender salgados e doces neles, mas o pessoal sempre dá um jeito né.

O Douglas, está um rapazão. Lindo tia. Não sei se lembra, eu tinha uns 3 anos quando vim em SP com a mãe. Eramos tão pequeninos. Se não me engamo a senhora estava por aqui também.

Todos nós sentimos muito a sua falta.

Não chegou a conhecer a Ester, mas posso dizer com certeza, ela é a cópia exta de mim. Nem se fossemos gemeas seriamos tão iguais. Me orgulho muito dela sabe, é batalhadora, sabe o que quer. Mas tem muito a aprender ainda. Espero estar aqui para ensiná-la ou simplismente apoiá-la.

Ah! Acredita que eu trabalho no SBT? Quem diria né... aquela menininha cresceu. E sim, eu conheço o Silvio Santos. Ele é um senhor muito simpático. Tenho orgulho de fazer parte da família SBT. Eles tem me ajudado muito.

E a mamãe. Ela tem sido tão forte. Aposto que tens olhado por ela daí.

Continua sempre por pert viu...

A senhora faz muita falta...


Nenhum comentário:

Postar um comentário